Em 2003, uma colega de estágio de quem não me recordo o nome, reparou na pulseira que eu trazia junto à mão esquerda.
— Que bonita, é marroquina?
— Não. É de lá dos lados dos Himalaias, mas não sei muito bem de onde veio.
O Senhor Bardo, um cavalheiro de cabelo crespo e desgrenhado que estava na mesa ao lado, ouviu a conversa e, imediatamente, quis ver a pulseirinha.
— Está em sânscrito? — perguntou-me.
— Não sei, foi a minha irmã que ma deu há alguns anos.
Pegou-me na mão esquerda e, com o olho que ainda lhe restava, observou a pulseira por não mais do que um ou dois segundos.
— Está em tibetano — disse, sem hesitar.
Revi o Senhor Bardo onze ou doze anos depois, já ele tinha perdido o outro olho para uma compulsão irresistível. O seu guia era agora o Armando, um jovem angolano de quem nunca ouvi um queixume, mas em quem sempre vi belíssimos sorrisos. Dava o braço ao Senhor Bardo, que nele confiava de forma incondicional. Na realidade, acho que se guiavam um ao outro.